O ideal é que uma gravidez dure 280 dias (40 semanas) e que o parto seja natural. Quando acontece uma redução da idade gestacional ou paciente/médico optam por cesárea, os bebês ficam mais vulneráveis a doenças crônicas
Cada dia de gestação inferior a 280 dias, ou 40 semanas, resulta em impactos negativos para a saúde de bebês.
Essa é a conclusão do estudo “Dias potenciais de gravidez perdidos (DPGP): uma medida inovadora da idade gestacional (IG) para avaliar intervenções e resultados de saúde materno-infantil”, coordenado pela professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Simone Diniz.
“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo brasileiro que analisa a idade gestacional em dias no período de termo para avaliar seus impactos na saúde de bebês e mães, mesmo considerando que este dado está disponível pelo menos para parte da base do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) desde 2011”, afirma a professora.
Para este estudo, foi criada uma nova variável: conta-se os dias faltantes entre o dia do nascimento até a duração média da gravidez (280 dias).
Então, foi proposto ao Ministério da Saúde seja uma alteração em dois campos da Declaração de Nascido Vivo e no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC): seriam incluídos a Idade Gestacional em dias (com base na data da última menstruação); na ultrassonografia com Idade Gestacional acrescenta-se a data de 1º exame; e realização de um exame físico ao nascer.
“O encurtamento do tempo de gestação traz maiores complicações e, inclusive, mais chances de morte. No curto prazo, podemos ter eventos como o maior número de neonatos internados em UTIs, icterícia, alterações da glicemia e dificuldades na amamentação. No longo prazo, temos maior impacto no desenvolvimento cognitivo, quadros de déficit de atenção e maiores fatores de risco para diversas doenças crônicas que poderão surgir ao longo da vida”, conta a professora Simone.
Outra consequência negativa, além do encurtamento do período gestacional, é a substituição do trabalho de parto natural pela cesariana. No Brasil, mais de 50% dos partos são cesáreas, sendo que a Organização Mundial de Saúde recomenda que essa taxa seja de até 15% nos países.
Existem até estudos que mostram que, quando o bebê nasce de parto natural, a criança tem contato direto com o microbioma vaginal da mãe; mas com a cesariana, os bebês têm contato direto com bactérias hospitalares.
“O processo de trabalho de parto mostra a maturidade gestacional e a prontidão para essa transição dramática da vida fetal para a neonatal. O trabalho de parto sinaliza ao corpo uma mudança epigenética (mudanças no fenótipo, que se perpetuam nas divisões celulares, sem alterar a sequência de DNA) necessária para ativar ou desativar os genes de uma etapa para a outra. Há estudos robustos mostrando que os nascidos por cesárea possuem um perfil metabólico inflamatório e são mais vulneráveis a doenças crônicas em geral. Entre as doenças inflamatórias mais comuns estão asma, eczema, diabetes mellitus, além de maiores chances de desenvolver certos cânceres”, explicou a professora Simone.
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