No menu items!
20.6 C
São Paulo
terça-feira, 18 março, 2025

Nossos Pequenos Pinguins: o que falta para que as crianças com deficiência e suas famílias sejam vistas como cidadãs?

Por Valmir de Souza

A série As Mães dos Pinguins é mais do que um retrato sensível da maternidade: é um convite à reflexão sobre inclusão, preconceitos e os desafios enfrentados por famílias de crianças com deficiência. A produção acompanha quatro mães cujos filhos possuem diferentes condições, como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Síndrome de Down e doenças raras, revelando não apenas as dificuldades do dia a dia, mas também a luta constante por direitos e por uma sociedade mais acolhedora.

O título já carrega uma metáfora poderosa. Os pinguins, apesar de serem aves, não voam, mas encontraram uma maneira única de sobreviver e se adaptar ao ambiente. Essa analogia nos leva a um questionamento essencial: será que nossa sociedade tem se comportado como uma colônia de pinguins, protegendo e acolhendo aqueles que mais precisam?

No Brasil, segundo a Pnad Contínua do IBGE (2022), há cerca de 760 mil crianças de dois a nove anos com algum tipo de deficiência.

Como se pode perceber, nossa população de pequenos pinguins tem uma grande representatividade no país quando tratamos de números, mas não como pessoas. O que vemos é um cenário em que a inclusão ainda se restringe ao discurso.

Acessibilidade não se resume a rampas e banheiros adaptados; trata-se de criar um ambiente onde todas as pessoas possam conviver sem barreiras físicas ou sociais. Na série, fica evidente que o preconceito é um dos principais obstáculos enfrentados por essas mães. Elas precisam lidar com olhares de reprovação, falta de suporte adequado e políticas públicas ineficazes.

O setor privado ainda enxerga a inclusão como um custo, e não como uma oportunidade de atender a um público consumidor que também precisa de produtos e serviços adaptados.

As políticas governamentais tampouco são diferentes. Vide a recente mudança no Benefício de Prestação Continuada (BPC), que demonstrou o retrocesso de uma política pública que já é aplicada de maneira equivocada. O BPC só chegava a alguns poucos grupos, pois a maioria não conseguia cumprir os requisitos.

Até no quesito profissional. Quantas empresas têm a sensibilidade de incorporar uma jornada adequada a uma mãe de um pinguim que permita a ela trabalhar e cuidar desta pessoa, que muitas vezes já é um adulto?

Se queremos ser uma sociedade verdadeiramente inclusiva, precisamos mudar essa mentalidade. É urgente que empresas, escolas e políticas públicas deixem de enxergar essas crianças apenas como estatísticas e passem a reconhecê-las como cidadãos plenos, com direitos e necessidades que vão muito além de adaptações básicas. A acessibilidade deve ser pensada de maneira ampla, envolvendo desde infraestrutura até treinamento e acolhimento humano.

Valmir de Souza é CEO da Biomob, startup especializada em soluções de acessibilidade e consultoria para projetos sociais


SUGESTÕES DE PAUTA: [email protected]

- Patrocinado -

Últimas

Entenda como a polícia monitora tornozelados por violência contra a mulher em SP

Iniciativa pioneira do Governo de São Paulo protege vítima...

Carta com visão brasileira sobre COP30 reforça urgência climática

Documento foi apresentado hoje pelo embaixador André Correa O presidente...

Saúde mental: afastamentos dobram em dez anos e chegam a 440 mil

Dados são do Ministério da Previdência Social Em 2014, quase...

Entenda como a polícia monitora tornozelados por violência contra a mulher em SP

Iniciativa pioneira do Governo de São Paulo protege vítima e dá atendimento imediato em casos de violação de medidas protetivas As forças de segurança de...

Carta com visão brasileira sobre COP30 reforça urgência climática

Documento foi apresentado hoje pelo embaixador André Correa O presidente e a diretora executiva da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30),...

Saúde mental: afastamentos dobram em dez anos e chegam a 440 mil

Dados são do Ministério da Previdência Social Em 2014, quase 203 mil brasileiros foram afastados do trabalho em razão de episódios depressivos, transtornos de ansiedade,...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui