Por Dr. Luiz Sérgio Carvalho
A insuficiência cardíaca (IC) é uma condição grave, muitas vezes silenciosa e perigosamente subestimada, tanto por pacientes quanto por profissionais de saúde.
No Brasil, entre 2019 e 2023, foram registradas mais de 941 mil internações por IC. Globalmente, a doença afeta mais de 64 milhões de indivíduos. A taxa de mortalidade anual para pacientes com IC pode chegar a 15%, e quase metade dos sobreviventes enfrenta novas hospitalizações em apenas um ano.
A realidade brasileira expõe uma preocupante desigualdade: pacientes com maior escolaridade e renda tendem a apresentar menor mortalidade e melhores resultados. Em contrapartida, os mais vulneráveis social e economicamente têm menos acesso a tratamentos modernos, morrendo até três vezes mais cedo e sendo hospitalizados com frequência até cinco vezes maior.
A transformação desse cenário começa no consultório. O médico desempenha um papel fundamental não apenas na prescrição, mas na educação e engajamento do paciente. Precisamos construir, junto ao paciente, uma narrativa compreensível sobre o que é a IC: uma doença crônica, progressiva e com risco de vida, mas controlável com tratamento eficaz e acompanhamento adequado.
Utilizar uma linguagem empática, comparações diretas e dados reais sobre os benefícios comprovados do tratamento é decisivo para melhorar a adesão. Envolver a família e a rede de apoio do paciente também fortalece o compromisso com o tratamento.
Pacientes também precisam ser agentes ativos em sua saúde. Reconhecer sintomas como falta de ar, inchaço nas pernas, cansaço excessivo e tosse persistente é o primeiro passo. Ao notar esses sinais, buscar avaliação médica rapidamente é essencial. Uma vez diagnosticado, compreender a importância do tratamento e aderir a ele rigorosamente faz toda a diferença.
Paralelamente, é necessário um compromisso sistêmico. Precisamos ampliar programas de educação em saúde, especialmente na atenção primária, capacitando equipes para identificar e manejar a IC precocemente. Incentivar a formação médica continuada com foco em comunicação empática e educação terapêutica é vital. Políticas públicas específicas, incluindo campanhas de conscientização para o público leigo e para a classe médica, podem mudar o panorama atual.
A insuficiência cardíaca não pode mais ser uma coadjuvante nos cuidados de saúde. Ela exige protagonismo clínico e atenção redobrada.

Dr. Luiz Sérgio Carvalho, médico PhD em Ciências Cardiovasculares, professor e especialista em investigação clínica, saúde e liderança.
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