Por Adriana Duarte
Há algo profundamente transformador em poder atravessar uma rua sozinho, escolher a rota para o trabalho ou simplesmente sair de casa sem depender de outra pessoa. Para quem convive com uma deficiência visual, cada um desses gestos é mais do que uma ação cotidiana: significa autonomia.
Durante muito tempo, a falta de recursos adequados restringiu essa liberdade. Mas hoje, inteligência artificial, sensores e sistemas de mobilidade conectada começam a ressignificar o que entendemos por acessibilidade. A tecnologia, quando orientada para o humano, deixa de ser apenas uma ferramenta e passa a ser um caminho de liberdade.
Não se trata apenas de inovação. Trata-se de dignidade. Devolver às pessoas a possibilidade de fazer escolhas simples, mas fundamentais, é promover inclusão de verdade. Em vez de barreiras, surgem pontes: aplicativos que descrevem o ambiente em tempo real, dispositivos que orientam percursos urbanos e plataformas que tornam serviços públicos mais acessíveis.
Na minha trajetória, sempre acreditei que a deficiência não limita o potencial humano, o que limita são as barreiras impostas pela falta de oportunidades e pela ausência de olhar inclusivo. A tecnologia pode mudar essa lógica. Projetos como o ViCop, que desenvolvi para auxiliar na mobilidade de pessoas com deficiência visual, mostram que é possível conciliar inovação, empatia e impacto social.
Estamos diante de uma nova era: a da inclusão inteligente. Uma era em que a inteligência artificial pode guiar um passo seguro, em que a mobilidade urbana pode ser vivida com independência, e em que a diferença não é vista como obstáculo, mas como parte essencial da diversidade humana.
O futuro que devemos construir não é aquele em que poucos desfrutam das inovações, mas sim um futuro em que cada avanço tecnológico seja também um avanço social. Porque no fim, a verdadeira revolução digital não está nos algoritmos, está na vida que eles ajudam a transformar.
Adriana Duarte é especialista em inteligência artificial aplicada à acessibilidade.
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