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terça-feira, 10 dezembro, 2024

Hospitais públicos de SP apostam no alento e no conforto gerado pela música clássica a pacientes, familiares e profissionais de saúde

Em duos ou trios, os músicos fazem pequenos concertos de 15 minutos em cada setor dos hospitais e tocam repertório erudito, com ênfase para composições clássicas e barrocas. Pesquisas revelam diminuição do nível de ansiedade, dor e sintomas depressivos


“Obrigado pelo carinho e, sobretudo, pelo tempo de vocês. Aliviam o caos e trazem alento à alma. Muito grata.” As palavras da Dra. Veruska Menegatti, assistente médica do Pronto Atendimento do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), atestam os efeitos e os benefícios que a música clássica proporciona a pacientes e profissionais de saúde. Veruska presenciou a reação dos internados durante uma sessão do projeto Vida em Pauta.

Idealizado pelo músico Sérgio Melardi, o projeto Vida em Pauta é realizado semanalmente no Instituto da Criança e do Adolescente, no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e no Instituto de Atendimento Médico ao Servidor Público EstadualA iniciativa leva música clássica a hospitais públicos numa ação de humanização.

Desde abril de 2023, foram 25 mil pessoas “atingidas” pelo projeto. Até o final deste ano serão 100 apresentações nos três hospitais. Estudos demonstram a capacidade da música dos grandes mestres, principalmente de Bach, Vivaldi e Mozart, de serem indutores de transformações profundas no cérebro, auxiliando na recuperação.

As atuações acontecem em parceria com a equipe hospitalar: os músicos são preparados para compreender o contexto dos hospitais e recebem orientações específicas para interagir de maneira adequada com pacientes e familiares.

Concertos de 15 minutos e músicos de excelência

Os pequenos concertos têm duração de 15 minutos em cada área do hospital e ocorrem nos corredores. Se for desejo do paciente e houver condições clínicas, os concertos também podem ser realizados dentro dos quartos.

Em formações intimistas – duos e trios – os músicos percorrem os diversos setores de cada hospital, como pronto-socorro, cuidados paliativos, oncologia, pediatria etc. A ideia é proporcionar momentos de conforto a pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde.

O repertório, selecionado por Melardi e sua equipe, apresenta melodias calmas e harmoniosas, criteriosamente escolhidas para diminuir ansiedade e trazer equilíbrio ao hospitalizado. Também se optou pela utilização de instrumentos cuja frequência e timbre sonoro sejam absorvidos de maneira não invasiva pelos ouvintes.

Músicos de excelência em seus instrumentos foram convidados a integrar a iniciativa. Para Melardi, a qualidade dos intérpretes é essencial para que o projeto atinja seu potencial máximo em termos de benefícios, qualidade artística e impacto positivo na comunidade, oferecendo uma experiência auditiva agradável e enriquecedora para os pacientes.

Melardi ressalta que o Vida em Pauta “não se configura como terapia ou tratamento terapêutico, mas sim como uma pausa saudável e acolhedora. A música clássica não apenas reduz a ansiedade e o medo, mas também cria um ambiente mais propício para a conexão humana, melhorando a comunicação entre pacientes e profissionais de saúde”.

Atualmente, a equipe conta com 16 artistas, entre eles:

  • Cláudio Micheletti – violino – Formado em 2004 na Liszt Ferenc Academy of Music em Budapeste (Hungria). Foi membro fundador do Quarteto Camargo Guarnieri. Atualmente é spalla da Orquestra Experimental de Repertório e Spalla da Orquestra Sinfônica da USP.
  • Ricardo Massahaku Fukuda – violino e violoncelo – Estudou violino com Yoshitame Fukuda e Erich Lehninger, violoncelo com Zygmunt Kubala e Watson Clis. Atualmente é Professor da Escola Municipal de Música de São Paulo e Coordenador Artístico do Instituto Fukuda de Música.
  • André Micheletti – Recitalista e camerista, é professor do Departamento de Música da FFCLRP-USP, faz co-direção artística da Orquestra Sinfônica de Piracicaba e é diretor artístico e pedagógico do Festival Internacional de Música Erudita de Piracicaba.

Estudos

Estudos apontam que a música auxilia em tratamentos para doenças degenerativas e demências, entre outras. (WONG, 2015). Pesquisas nacionais sobre os efeitos da música nos hospitais revelam que ações musicais atuam no enfermo na diminuição do nível de ansiedade, diminuição da dor, e sintomas depressivos.

Pesquisa médicas confirmam que a música pode diminuir a frequência cardíaca, diminuir a pressão arterial, reduzir os níveis de hormônio do estresse. Além disso, há evidências de a música auxiliar na recuperação de pacientes que tiveram AVC.

Depoimentos sobre o Projeto Vida em Pauta

“Eu agradeço! Pois quando se está internado é uma tristeza, e quando tem música a gente até esquece que tem doença” (Paciente da Oncologia)

“A música traz boas sensações, aquece a alma! O som estava ótimo, eu gostei quando tocou Ave Maria” (Paciente dos Cuidados Paliativos)

“A música é fundamental no ambiente hospitalar, principalmente aqui onde trabalhamos com oncologia. (Maria Helena da Cruz Sponton, coordenadora de humanização do Instituto do Câncer)

“Nós, músicos, quando tocamos, tocamos o coração das pessoas. Aqui nós nos sentimos tocados por cada olhar, cada semblante.” (Ricardo Fukuda, músico do projeto Vida em Pauta)

“Os pacientes mostram outro humor ao ouvir as músicas. Sempre flagro reações positivas, nem que seja um breve sorriso. No hospital, os pacientes vivem o oposto da estética da música. É grande o impacto para quem vive a realidade da dor, do sofrimento, da morte.” (Dra Antônia Tonus, psiquiatra do Hospital do Servidor)


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