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sábado, 27 julho, 2024

Diagnosticada com transtorno bipolar, artista formada na Unicamp fala sobre doença: “Existem armadilhas pelas quais tenho que navegar”

Lucia Castelo Branco é formada em Artes Cênicas pela Unicamp e passou grande parte da sua vida entre idas e vindas em hospitais psiquiátricos; hoje, a artista vive na SIG – Residência Terapêutica e organiza sua vida entre lazer, trabalho artístico e saúde mental

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Transtorno Bipolar afeta mais de 140 milhões de pessoas em todo o mundo. A psicopatologia é muito associada à oscilação de humor, mas vai muito além: trata-se de um transtorno mental grave e com sintomas que diminuem consideravelmente a qualidade de vida do paciente.

“Sintomas como irritabilidade, insônia, impulsividade e hiperatividade também são bastante comuns nos pacientes com esse tipo de transtorno. A euforia é comum nas pessoas que apresentam quadro de bipolaridade e, mais do que isso, elas podem tornar-se mais desinibidas e falar, por exemplo, sobre questões íntimas na frente de pessoas que não conhecem”, explica o Dr. Ariel Lipman, médico psiquiatra e diretor da SIG – Residência Terapêutica.

Aos 55 anos e diagnosticada com bipolaridade há três, Lúcia Castelo Branco, moradora da SIG, tem uma outra definição: “Sinto que, às vezes, quero dançar na chuva e, em outras, tudo que quero é sumir. A mudança é muito repentina, não é de um dia para o outro, é de um segundo para o outro. Existem gatilhos, armadilhas pelas quais tenho que sempre navegar, isso é a minha vida”, comenta.

Apesar do recente diagnóstico, Lúcia já sabia que tinha algum transtorno mental há muito tempo. “Fui diagnosticada aos quarenta anos, durante um período de pré-depressão. Eu já tinha passado por depressão antes, quando minha mãe ainda estava viva. Comecei a tomar remédios cedo, mas demorou para entender exatamente o que eu tinha”, explica.

No início das experiências nas crises e dificuldades decorrentes, a moradora da SIG conta que foi rotulada como “louca”, o que segundo ela, a revoltava e machucava muito. “Sabia que alguma coisa não estava bem, mas não conseguia entender o que acontecia comigo. Tinha tantos sonhos. Mais tarde, descobri sobre o transtorno bipolar e as consequências de não ser devidamente tratado, mas levou um tempo para eu aceitar”, relembra. “Eu amo a vida, mas lido com várias dificuldades causadas pelo transtorno”.

Amor pela arte

Formada em Artes Cênicas pela Unicamp, Lucia é apaixonada pela área artística, já trabalhou como assistente cultural e já esteve envolvida com cinema, teatro e televisão. “Trabalhei na área artística por mais de 15 anos e gosto muito de escrever livros, principalmente poemas” , explica ela.

O livro, no entanto, não é sua única paixão. “Eu gosto da dramaturgia, seja por meio de roteiro ou peças teatrais. Aliás, tenho duas peças escritas, uma chamada “ A menina Leila (Feia nos Calcanhares), Mudanças que fazem a diferença, e outra que se chama “Paz Mundial envolve a Terra em Arco Íris”, complementa.

Nenhuma foi apresentada ainda, mas a artista também planeja fazer um podcast sobre ‘Leila’, que parece ser seu xodó e já está nas mãos de uma revisora. “Também estou escrevendo um livro sobre a SIG, com histórias dos moradores e entrevistas”, conta.

Para seguir com os planos e continuar escrevendo, Lucia está planejando montar um estúdio em seu próprio quarto dentro da SIG, isso envolve estantes e uma mesa que facilite entrevistas, criando um “ambiente agradável”.

Além da arte

Acima da mesa que fica no quarto de Lúcia, há um cronograma com o que ela faz cada dia da semana de manhã, de tarde e de noite, tudo muito organizado. “Faço educação física de manhã e relaxamento à tarde. Às quintas-feiras, tenho terapia online com uma profissional daqui. Na parte da noite assisto a vídeos, gosto de ouvir música e ler. Às vezes, faço arte também”, relata.

Apesar da vida em uma residência terapêutica, a artista é uma moradora “exemplar”, como disse uma enfermeira que bateu na porta do quarto de Lúcia para entregar um de seus remédios, tanto, que ela tem total liberdade de sair da SIG sozinha. “Adoro ir ao cabeleireiro e fazer as unhas”, conta.

Nessa agenda cheia, ela também encontra um tempo para fazer um curso online de francês para visitar a irmã, que mora em Paris. “O mundo é muito complicado, mas eu amo minha vida”, finaliza.


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