No menu items!
17.8 C
São Paulo
terça-feira, 17 junho, 2025

Proibido, mas ainda presente: o desafio do usodo celular na escola e em casa

Por Ana Claudia Favano

Em vigor desde 31 de janeiro deste ano, a Lei nº 15.100/2025, que restringiu o uso de celulares nas escolas brasileiras, não têm sido cumprida por 63% dos estudantes do Ensino Médio, que afirmam ainda levar o aparelho celular para a escola todos os dias – conforme apontou pesquisa, divulgada recentemente, da iniciativa Equidade.info em parceria com a Frente Parlamentar da Educação.

É um número alarmante que escancara a dependência digital que nossa sociedade vive desde a popularização dos smartphones na década de 2010. Educadores veem diariamente no dia a dia escolar como o acesso constante à tecnologia não só reduziu a autonomia individual de crianças e adolescentes, mas também substituiu interações presenciais, afetando a qualidade das relações familiares.

O não cumprimento da lei – criada para proteger justamente aqueles que a descumprem – leva a uma reflexão que especialistas da área já se fazem há bastante tempo sobre o tema. Muito além de proibir ou permitir, a questão mais importante e desafiadora é como integrar os dispositivos ao ambiente escolar sem comprometer os pilares da formação pedagógica, sócio emocional e ética das crianças e adolescentes.

A autonomia humana é construída por meio de experiências reais, discussões críticas e vivências que exigem o uso da razão e a tomada de decisões responsáveis. A dependência digital tem contribuído para a não formação dessa autonomia, resultando em uma geração que está desaprendendo a pensar criticamente, que não consegue tomar decisões justas e assertivas, e que aceita passivamente ideias impostas, demonstrando desatenção e desinteresse nas relações interpessoais.

Infelizmente, o Brasil se destaca entre os países com o maior tempo de conexão digital, e os efeitos dessa realidade são cada vez mais visíveis: crescimento de crimes virtuais sexuais e de cyberbullying; aumento nos casos de depressão; isolamento social e agressividade e dificuldades na regulação emocional, tanto em crianças quanto em jovens e adultos.

A saúde mental e emocional no ambiente escolar tem sido negligenciada por décadas, com investimentos ineficazes que não resultam em transformações significativas. O crescimento alarmante de problemas emocionais entre crianças e jovens reflete essa falta de atenção ao desenvolvimento socioemocional. O desempenho acadêmico tem sido priorizado em detrimento da saúde mental na maioria das escolas, o que agrava os sintomas que afetam a aprendizagem.

No contexto escolar, portanto, torna-se imperativo que os profissionais da educação estejam preparados para compreender a dependência digital e agir de forma eficaz, debatendo e implementando medidas concretas. As escolas têm a responsabilidade de promover programas de convivência e desenvolvimento da formação ética, moral e socioemocional; possibilitando que a restrição do uso do celular seja efetivada e compreendida pelos próprios alunos como fundamentais para o seu desenvolvimento saudável no contexto curricular. Tais iniciativas devem ainda apresentar a importância da educação midiática aos jovens de maneira fundamentada.

Porém, se a família não fizer o seu papel de regulação, todo o esforço da escola será em vão. Os alunos chegam em casa e podem acabar descontando o tempo que ficaram longe dos dispositivos e agravar ainda mais a sua dependência; pois ficarão ainda mais tempo usando o aparelho celular, tomando espaço onde deveriam conviver com suas famílias, estudar, ler e dormir.

Jonathan Haidt, renomado psicólogo social e especialista em psicologia da moralidade – autor do livro “A Geração Ansiosa” e um dos maiores pensadores sobre o impacto das telas para o desenvolvimento humano – sustenta que nenhuma criança ou adolescente deveria ter celular antes dos 14 anos nem acesso à internet antes dos 16.

A escola pode atuar pela proibição do uso do celular no ambiente da sala de aula, mas o jovem continua tendo acesso em casa a um mundo online vasto desconhecido, pela palma da mão. Por isso, o movimento de conscientização deve se estender às famílias. É fundamental que os pais, responsáveis e cuidadores compreendam a necessidade de participar e fomentar ações ativamente também no ambiente familiar, promovendo um retorno à convivência de qualidade e ao bem-estar coletivo.

É urgente resgatar a comunicação face a face, implementar estratégias planejadas que incentivem as interações sociais presenciais saudáveis e orientar o uso consciente da tecnologia, promovendo o retorno e desenvolvimento de habilidades de relacionamento e comunicação que foram comprometidas pelo uso excessivo de dispositivos digitais.

Ana Claudia Favano é especialista em Psicologia Positiva e gestora da Escola Internacional de Alphaville.


SUGESTÕES DE PAUTA: [email protected] 

- Patrocinado -

Últimas

Parques e planetários municipais estarão abertos durante o feriado de Corpus Christi

Espaços terão programação especial do Junho Verde, oferecendo opções...

Escolas já podem Agendar Visitas à Exposição Memórias de Ferro, na Casa de Metal, no Campo Belo

Inaugurada em maio, a exposição “Memórias de Ferro - A Fábrica Ipanema” retrata fatos históricos da industrialização de metais no Brasil A exposição “Memórias de...

Parques e planetários municipais estarão abertos durante o feriado de Corpus Christi

Espaços terão programação especial do Junho Verde, oferecendo opções de lazer ao ar livre e atividades para a população Os parques e planetários municipais seguem...

Hospital Municipal Gilson de Cássia Marques de Carvalho completa 10 anos com 12 mil pacientes oncológicos atendidos

Hospital é a única unidade pública municipal de referência no tratamento de câncer, garantindo assistência de alta complexidade Inaugurado em 10 de junho de 2015,...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Visão geral de privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.