Com a chegada das férias escolares, cresce a preocupação com o tempo que as crianças passam diante das telas. A neurociência mostra que o uso excessivo — especialmente de conteúdos rápidos e altamente estimulantes — altera temporariamente o funcionamento do cérebro infantil. O córtex pré-frontal, área responsável por atenção, planejamento e controle de impulsos, é particularmente vulnerável nas primeiras décadas da vida. Estudos demonstram que a velocidade das cenas e a intensidade dos estímulos podem inibir a atividade pré-frontal, reduzindo a capacidade de autorregulação logo após o uso.
Outro elemento central é a dopamina, neurotransmissor ligado à recompensa. Vídeos curtos e aplicações com recompensas instantâneas geram picos sucessivos que condicionam o cérebro a buscar apenas estímulos rápidos, o que explica a dificuldade crescente de foco, tédio fácil e irritabilidade quando a tela é retirada.
A luz azul, por sua vez, suprime a melatonina, hormônio essencial para o sono. Em crianças, esse efeito é ainda mais intenso: resulta em dificuldade para adormecer, sono fragmentado e menor consolidação da memória — etapa fundamental para o aprendizado.
A OMS e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam evitar telas para menores de 2 anos, limitar a 1 hora por dia entre 2 e 5 anos e manter supervisão ativa nas faixas mais velhas. Antes de dormir, telas devem ser totalmente evitadas.
A mensagem científica é clara: as telas podem ser ferramentas úteis, mas o uso precoce, prolongado e não supervisionado afeta mecanismos fundamentais do neurodesenvolvimento. Nas férias, proteger o cérebro infantil significa garantir rotina, movimento, brincadeiras reais e limites consistentes.

Dra. Eliana Maekawa Rodrigues é Pediatra e Neonatologista
CRM/SP 150665 – RQE 103962
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Referências essenciais:
Christakis DA et al. JAMA Pediatrics, 2018.
Hutton JS et al. JAMA Pediatrics, 2019.
WHO Guidelines on Physical Activity, Sedentary Behaviour and Sleep, 2019.
Sociedade Brasileira de Pediatria – Manual de Saúde Digital, 2024.
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