Renda domiciliar é o principal fator que impede o acesso pleno à alimentação
Uma nota de política econômica do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da USP analisou a relação entre distribuição de renda e insegurança alimentar no Brasil, mostrando que o problema persiste mesmo após o País ter saído do mapa da fome da ONU em 2024. A diferença, explica Clara Saliba, pesquisadora do Made e uma das autoras do estudo, está na forma como cada conceito é medido. “O mapa da fome indica se há comida suficiente no País, mas a insegurança alimentar mostra quem, de fato, consegue ter acesso a ela”, diz. Segundo ela, o principal gargalo está na desigualdade de renda, que impede que a produção de alimentos se converta em alimentação adequada para todos.
A análise utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017–2018 do IBGE, cruzados com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). Os resultados são claros: entre os 10% mais pobres, sete em cada dez domicílios enfrentam algum grau de insegurança alimentar, enquanto entre o 1% mais rico, 97 em cada 100 têm segurança alimentar garantida. “A renda define não só quanto alimento se compra, mas também a qualidade e a durabilidade do que se consome”, destaca Clara.
O estudo mostra que as regiões Norte e Nordeste concentram os casos de insegurança alimentar moderada — quando há redução ou salto de refeições —, enquanto o Sul e o Sudeste apresentam os menores índices. Domicílios chefiados por mulheres negras e com baixo grau de escolaridade são os mais afetados, especialmente nas zonas rurais, onde o acesso a água potável e esgoto é mais precário. A insegurança alimentar grave — próxima da fome — é mais frequente em casas sem instrução formal e sem infraestrutura básica.
Com informações do Jornal da USP
SUGESTÕES DE PAUTA: [email protected] 

