Na previsão menos adversa, a área adequada para cafeicultura no país sem uso de irrigação diminuirá mais de 50% até 2060.
O cultivo de café arábica (Coffea arabica L.), o mais produzido no Brasil, deverá ser fortemente impactado pelas mudanças climáticas nas próximas décadas. Segundo projeções feitas por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e dos institutos federais do Mato Grosso do Sul e do Sul de Minas, o país deverá perder mais de 50% das áreas propícias ao cultivo do grão até 2080 em cenários climáticos mais e menos extremos.
Eles se baseiam em conjunturas climáticas globais formuladas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — da mais otimista (RCP2.6) à mais pessimista (RCP8.5) — para simular o crescimento e a produtividade do café arábica em diferentes regiões do país e identificar as áreas que permanecerão aptas para seu cultivo e aquelas que se tornarão inaptas entre os anos de 2041 e 2060 e de 2061 e 2080.
No cenário climático mais otimista, as emissões de gases de efeito estufa diminuem para zero por volta de 2075 e se tornam negativas depois disso. No mais pessimista, as emissões não param de aumentar até o fim deste século, de modo que a temperatura média da atmosfera do planeta será, em 2100, cerca de 4 graus Celsius (°C) maior do que a atual.
Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, três dos maiores produtores brasileiros, seriam os mais afetados. Somente o estado de São Paulo, terceiro maior produtor de café arábica no país, já perdeu mais da metade de suas lavouras nas últimas três décadas, de acordo com um estudo publicado em 2019 na revista Coffee Science.
Essa mudança no mapa da produção cafeeira nacional poderá ter sérios impactos econômicos e sociais. O Brasil responde atualmente por cerca de 33% da produção mundial e 26% das exportações para 152 países, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O país produz aproximadamente 49,3 milhões de sacas em 2,1 milhões de hectares. Sua cadeia produtiva é responsável pela geração de mais de 8 milhões de empregos, com cerca de 287 mil cafeicultores, a maioria de pequeno porte.
Crédito da foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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