Em momentos de crise, é tentador que as empresas encarem a folha de pagamento como uma maneira rápida de cortar custos. Afinal, a conta mais pesada está frequentemente ligada aos gastos com pessoal, fazendo com que a demissão de funcionários pareça ser uma solução prática e imediata. No entanto, há pesquisas e evidências que esclarecem a necessidade de encarar essa alternativa como algo que pode gerar mais prejuízos do que benefícios.
O “The US Conference Board” revela que 30% das organizações que optaram por dispensar colaboradores para reduzir despesas acabaram vendo um aumento nos custos. Isso se deve, em parte, à má gestão das demissões, que pode resultar na saída de profissionais essenciais para o sucesso da corporação. De acordo com a Deloitte, 75% das empresas que demitiram funcionários tiveram que recontratar pessoas para as mesmas posições em menos de um ano.
O ponto crucial que muitas empresas ignoram é que, em tempos difíceis, a sobrevivência está ligada à capacidade de identificar quais investimentos realmente precisam ser cortados. Cortar custos sem uma análise cuidadosa pode resultar em uma desestruturação que compromete exatamente a eficiência e a qualidade do serviço.
É fácil ver como essa armadilha se forma. Quando uma empresa demite sem analisar como melhorar os processos internos, a consequência imediata é: menos pessoas para a mesma quantidade de tarefas. Isso pode acarretar uma sobrecarga para os que permanecem, que terão de lidar com retrabalho e processos duplicados. Esse ciclo vicioso deve levar a uma queda na qualidade do serviço, no bem-estar do profissional e na satisfação do cliente.
E o paradoxo se torna ainda mais evidente quando são observadas empresas que, apesar de baterem recordes de vendas, veem as margens de lucro encolhendo trimestre após trimestre. O problema pode não estar apenas no faturamento, mas sim em uma gestão de custos ineficaz.
A questão não é se deve-se ou não demitir, mas sim como fazer isso de maneira coesa. Antes de optar pela saída de funcionários, é vital realizar uma análise profunda dos processos internos, identificar ineficiências e focar em ações que realmente tragam valor. A chave para a sustentabilidade corporativa não está em soluções fáceis, mas sim em cultivar um ambiente que valorize e entenda o potencial do talento humano, ao mesmo tempo em que busca pela eficiência operacional.
André Sanseverino iniciou sua carreira profissional na EY em São Paulo. É professor de pós-graduação e mestrado e atualmente responde pelas áreas de Vendas e Marketing da companhia.
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