Os brasileiros passaram as últimas semanas vibrando no fuso horário olímpico. Nos tornamos especialistas em modalidades que pouco conhecíamos antes e a comemoração de cada medalha ganhou dimensão de conquista pessoal. Foi bonito de ver, e mais ainda com o brilho das mulheres na competição.
Essa também foi a primeira edição da competição com o mesmo número de esportistas homens e mulheres, um marco para uma história que se iniciou sem elas. A discriminação é história que se repete em outros campos, como a participação de mulheres na política.
No Brasil, o voto feminino foi permitido pela primeira vez apenas em 1932, e logo no ano seguinte tivemos a primeira brasileira eleita para a Assembleia Nacional Constituinte. Foi assim que a médica paulista Carlota Pereira de Queirós se tornou a primeira deputada federal da América Latina. Ao longo do século fomos ocupando espaços no campo esportivo, público e político, mas de forma lenta e limitada.
Em 1996, a participação feminina nas Olimpíadas ainda não passava de um quarto dos competidores, uma dificuldade que reflete o desafio que as mulheres enfrentam para ocupar também outros espaços públicos. Os Jogos de Londres foram os primeiros com mulheres em todas as comitivas de países representados, e foi crescendo o número de esportes permitidos às mulheres. Mas, apesar dos avanços, os desafios permanecem.
Da mesma forma, as mulheres ainda estão sub representadas na política. Nas últimas eleições nacionais a bancada feminina da Câmara dos Deputados cresceu 18%, passando de uma composição de 77 deputadas nas eleições de 2018, para 91 eleitas em 2022. Mesmo assim, elas representam apenas 17,7% das cadeiras da Casa. Seja na política, nos esportes ou em outros espaços de destaque e liderança, queremos que as mulheres estejam por toda a parte!
Assistimos mulheres de todo o mundo brilhando nos Jogos de 2024, mesmo com os desafios extras que enfrentam em relação aos homens. Assim, enquanto nos emocionamos com os lindos pódios femininos, fica a pergunta sobre quantas ginastas, surfistas ou judocas extremamente talentosas ainda não foram descobertas no Brasil. E quantas mulheres gostariam de estar na política brasileira e não encontram espaço? Para que mais meninas e mulheres possam alcançar cargos de liderança e posições de prestígio, é responsabilidade de toda a sociedade promover condições para tal.
Marina Bragante é paulistana, mãe de trigêmeos, psicóloga e Mestre em Administração Pública por Harvard, com mais de 15 anos de experiência no setor público.
SUGESTÕES DE PAUTA: [email protected]